Inquietação


                                                                 
                                                               Art : Francisco Luis Candeias

Diógenes de Sínope,( aluno da escola cínica) ,andava durante o dia com uma lanterna acesa pronunciando a frase “Procuro um homem honesto”. Buscava um homem, que tivesse descoberto sua verdadeira essência e fosse fiel a ela.

É triste depararmos com o cinismo que envolve a política (acepção moderna desta palavra não tem nada a ver com a do passado). Hoje justifica a dissimulação e descaramento.

Em relação à política, Diógenes a comparava ao fogo: “se ficarmos muito longe, sentiremos frio, mas se ficarmos perto nos queimamos”.

Então, só me resta ficar no meio com a minha minúscula lanterna a procurar um político honesto.

A cota de papel ofício na escola que leciono é de 500 folhas. Trabalhar com nove turmas com essa quantidade é quase impossível, haja vista que a maioria não tem caderno de desenho.

Posso me considerar felizarda, pois em Artes até dá para improvisar. Embalagens de papelão na minha casa tem destino certo, levo para a escola e quando tem número suficiente para uma turma utilizo para eles desenharem. Folha de papel pardo, talvez por ser um material barato ou não ser muito utilizado pelos outros professores tem bastante na escola, daí recorto e utilizo também.

A maioria de nossos alunos é carente, esse fator contribui para que a cantina da escola não tenha muita movimentação. Devido a esse fator a direção pede uma contribuição de 10 reais mensais aos professores para recarga do tôner1.

Cheguei a contribuir, mas agora voltei ao velho mimeógrafo2. A quantidade de folhas que recebo não me apetece pagar para isso.  Engraçado foi sentir a reação de algumas pessoas quando no conselho de classe tocou-se na contribuição e eu falei que voltaria a utilizar estêncil3.

Conversando semana passada com uma professora de outra escola descobri que ela também está fazendo uso do mimeografo e o que é ainda mais triste a cota mensal dessa escola é de 100 folhas. Não sei se esse fato se deva a escola ter um número maior de turmas.

Pior que conheço vários professores (da rede) que compram folhas, sem esquecer que em épocas comemorativas (páscoa, dia das mães, pais, crianças) bancam lembrancinhas com o seu mísero salário. 

Olha, tenho 28 anos de magistério nunca comprei, nem pretendo por achar abusivo. Pedir a colaboração dos pais não pode, será por que, que isso ainda ocorre?

Claudiane Ferreira


Fonte:

http://jornaldehoje.com.br/a-lanterna-de-diogenes-ailton-salviano-geologojornalista-ailtondigi-com-br/


“O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez enquanto vem à inquietação: quero entender um pouco.”

Clarice Lispector, in ‘ A Descoberta do Mundo’

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(1) Tinta em pó usada nas impressoras a laser e fotocopiadoras para formar texto e imagens em papel.

(2) Uma copiadora à base de álcool que funciona a manivela

(3) Tipo de folha de papel fino que serve de matriz para a impressão por mimeografo




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