Um Diário


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O tempo, não importa quanto passe, é implacável! Não há nada oculto que não venha à luz. Por mais que tentasse passar despercebido, Benjamim não o conseguira, mesmo usando um pseudônimo nas publicações diárias feitas no pequeno jornal daquela cidade que ele gostava de chamar de sua Cidade Refúgio.
Escreveu ele em seu artigo no jornal de hoje, sumarizando o que pesquisara sobre o texto do dia 14 agosto:
Os escribas, no seu uso no Antigo Testamento, a sua arte confinava-se quase inteiramente em certos clãs, que preservavam essa arte como profissão de família, passando esse conhecimento de pai para filho. A conexão entre o sogro de Moisés, que era sacerdote, serve de indicação de que a arte de escrever nunca esteve muito distante do sacerdócio.
Contudo, nas páginas do Novo Testamento é que se encontra o testemunho final sobre o emprego da palavra “escriba”, indicando alguém que era um erudito e autoridade na lei mosaica. Os “escribas” são ali achados ligados ao partido sacerdotal (os saduceus, por exemplo) e também ao partido dos fariseus.
Porém, os escribas (ou eruditos) de ambos os partidos desafiaram Jesus, principalmente devido ao fato de que ele não observava as práticas tradicionais ditadas pela lei oral. Por exemplo: comer com as mãos sem lavá-las, o que era uma quebra da tradição oral; ou comer com os que não observavam suas tradições.
 Mas, o que era a lei oral? Entre judeus, era um código não escrito da lei de Moisés, para o bem de Israel, o qual passou a ser escrito, por fim, mas nunca foi registrado por completo e tinha – e continua tendo, entre os judeus - uma autoridade bastante separada do registro escrito (Lei).
Entre cristãos, era o corpo de doutrina e disciplina promovido por Cristo, parte do qual, em um momento posterior, foi preservado de forma escrita. Porém, acordo com alguns cristãos, adições podem ter sido feitas através dos escritos e ideias de influentes teólogos, professores e mestres cristãos e importantes bispos (século II e VII) da igreja, e esse material tornou-se uma autoridade adicionada para a crença cristã.
 As tradições judaicas se aplicavam a quase todas as situações que um homem enfrentaria em sua vida diária, portanto havia enorme peso de leis a seguir que agradavam a mente do judeu. A “lei da lavagem” era muito complexa, e os judeus davam grande atenção a coisas triviais, enquanto negligenciavam os materiais mais “pesados” da lei mosaica. Por exemplo, honrar pai e mãe era uma verdadeira lei (revelada por Deus na lei mosaica) que eles haviam transgredido, segundo conta Mateus, no capítulo 15, versículos de um a dez. Em outro evangelho, Jesus chama tais tradições de “tradição dos homens” (Marcos 7.8).
Nesta enfadonha pesquisa entre inúmeros escritos dos homens, encontrei o Talmude. Embora ele lide principalmente com a interpretação da Lei (Tora), também trata de religião geral, ética, instituições sociais, história folclore e ciência. Resumindo: conjunto de escritos posteriores que interpretam a Lei original, dada a Moisés e que servem para minimizar as deficiências na lei mosaica; o que é o mesmo que dizer que a Lei de Deus era incompleta! - Quanta presunção se ela for considerada como uma verdade revelada por Deus! Mas, como sempre, ali estava o homem para dar uma “mãozinha”... Deus precisava de ajuda...
Enquanto isso, na cristandade dos primeiros quatro séculos, uma nova autoridade cresceu, nos dizeres e os escritos dos doutores, teólogos e outros interpretes da Bíblia. Se assim é, pode-se dizer que o corpo dessa nova interpretação era um tipo de Talmude cristão!
E é isto que se observa nas tradições das diversas denominações religiosas. Embora proclamem muito alto sua doutrina da “Escritura apenas”, estas denominações, através das interpretações específicas de passagens da Bíblia, criaram sua própria tradição. Cada denominação, confessando ou não, com seu próprio Talmude através de interpretações das Escrituras que contradiz os Talmudes de outras denominações!

E os fariseus? Seu significado é “separados” e usualmente vinham dentre a massa de povo comum, e nisso faziam contraste com os saduceus, que geralmente eram provenientes da aristocracia. O movimento desse nome, no princípio, envolvia uma espécie de grupo reformador, que tencionava purificar e defender a crença judaica ortodoxa. Eram os porta-vozes das opiniões da maioria das massas populares. Mas isto não durou. Após alguns anos se intrometeram nas fileiras do farisaísmo uma grande quantidade de atitudes legalistas e ritualísticas, e isso serviu apenas para obscurecer os propósitos originais do grupo.
Assim, de acordo com o descrito acima, tenho que perguntar: que é lei? De volta aos livros, encontro que no seu sentido jurídico, a lei é um conjunto daquelas regras de conduta que um partido governante, juntamente com a comunidade por ele governada, reconhece como autoritário, e cuja desobediência requer alguma forma de punição, para assegurar que continuará em vigência. Muitos códigos legais também promovem alguma espécie de recompensa aos obedientes.
Na Bíblia, encontramos vários códigos legais e Israel sempre se distinguiu como nação profundamente interessada pela história, pela religião e pela lei. De fato, dentro da mentalidade hebreia, não há como separar esses três conceitos, porque, para um hebreu piedoso, todas as coisas tinham um forte sabor religioso. A lei mosaica, veio à existência a fim de definir como a nação de Israel, deveria relacionar com Yahweh e cumprir suas exigências. Nos preceitos da lei havia a vida (potencialmente). Fora desses preceitos havia somente destruição e morte.
O propósito dos códigos era moldar a vida do povo de Deus, a fim de prepará-lo para a conduta apropriada, e tendo em vista a glória de Israel, entre as nações, como a cabeça das nações. Para alguns, a esperança messiânica fazia parte da razão de boa conduta, por parte do povo de Deus.
Essa preocupação com a lei foi transferida para o Novo Testamento, onde, entretanto, recebeu novo caráter. Jesus foi o novo Moisés que nos trouxe um conhecimento profundo e uma aplicação mais perfeita dos princípios ensinados no Antigo Testamento.
Nos evangelhos, os preceitos de Jesus são encarados como uma graduação acima dos preceitos do Antigo Testamento, uma espiritualização dos mesmos e o advento do Messias fez com que a lei mosaica fosse cumprida em seus termos mais nobres.
Assim, o discipulado cristão, torna-se dependente da obediência prestada ao Messias, que oferece a recompensa da vida eterna aos obedientes às suas palavras, encontradas nos evangelhos.
Continuo procurando...

EP. Gheramer



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