Era Domingo de Páscoa



Crédito da imagem - Pawel Kuczynski


      - Lá na rua tem um homem caído na calçada - um homem falou para um menino ao seu lado.
      - Eu vi. Viu a ferida na perna dele? – Falou o menino, fazendo uma cara de nojo.
      - Estava pensando em carrega-lo no colo até o hospital... - o homem falou para o menino.
      - Que nojo... E depois pegar uma doença?! – falou o menino.
    - Ah, coitado! Jesus disse que a gente deve ajudar os pobres e aos que sofrem... - falou uma mulher que estava perto.
      - Ele está bêbado... – disse o menino.
    - Ah! Se estiver bêbado, não... Então é um sem vergonha. Só se estivesse doente – falou a mulher.
     Outro homem, que ouvia a conversa, estava calado para não estragar o domingo. Mas, se falasse o que estava pensando diria:
     - A ferida dele não está no corpo, está na alma... Não há remédio para a dor que está na alma. Só o álcool o anestesia, fazendo-o esquecer de que também já fora um filho de Deus... De um Deus que ele, hoje, graças às pessoas, ele nem mais vê... e nem sente.

    Aos poucos, o grupo que se formara ao redor do homem caído, foi se dispersando, a começar pelos que mais pensavam e menos falavam, até àquelas que mais falavam e nada faziam.

      E o homem ficou lá sozinho, como antes estava – bêbado.



EP. Gheramer

Site do Autor: Palavras ao Vento

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