O Peso Da Cor
Esses dias estive pensando, coisa bem
rara vindo de minha pessoa! Com o meu carro quebrado tive que pegar alguns
metrôs, ônibus e trens para resolver minhas coisinhas do dia a dia, e para meu
espanto percebi que as máscaras que as pessoas nos rotulam são tantas que a discriminação
ficou fora de moda.
Estava sentado no ônibus e pedi
para segurar a bolsa de uma mulher, ela me olhou de cima a baixo, com aquele
olhar de desconfiança, muito comum nos dias de hoje e me disse que não
necessitava, eu podia ver seus dedos quase dilacerados com o peso da bolsa e
mil sacolas como se fossem algemas.
Enquanto percorria as ruas da minha
cidade, tranquilo e cantarolando uma música qualquer, percebi que por onde eu
ia passando as mulheres jogavam as bolsas para o outro lado e as seguravam com
imensa força, na hora não entendi muito o porquê, desses acontecimentos, até
que uma ao me ver entrou em desespero, atravessou a avenida correndo e quase
foi atropelada, do outro lado foi assaltada por dois caucasianos que esperavam
ansiosamente por uma vítima.
Confesso
que foi até engraçado, saiu de sua total segurança para pular na teia de duas
caranguejeiras impiedosas. Mais à frente foi a minha vez de me deparar com meus
algozes, que correram pensando que eu fosse um policial civil. Tudo bem que com
meu um metro e oitenta e cinco centímetros de altura, e noventa e cinco quilos,
deva assustar muita gente, mas aquilo era anormal! Ao voltar para casa passei próximo
a um posto policial e um dos policias me saudou com um cumprimento militar, e
fiquei imaginando a bela crônica que isso daria, afinal sou professor e dia
desses a mãe de uma aluna me encontrou em um grande magazine e a menina me
apresentou a ela que rapidamente perguntou-me se eu trabalhava ali, eu olhei
para sua mãe e disse-lhe que dava aulas, e ela me fez a mesma pergunta mais
duas vezes, a menina toda sem graça se despediu e nem tocou mais no assunto. E é
só quando eu escrevo que me sinto alguém e mesmo depois de mais de mil poemas
escritos, tem gente que me pergunta: Você é Poeta? Dou um largo sorriso e digo:
eu só escrevo, porque se eu disser, acredito que pensarão que sou mentiroso.
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