CRIATIVIDADE
CRIATIVIDADE
(Por Maristela Ormond)
Criança pobre tem muita imaginação, pouco dinheiro,
nenhum brinquedo a não ser aqueles que ela mesma fabrica e complementa com sua
imaginação fértil.
Criança pobre sempre tem muitos irmãos e esses acabam
sendo seu brinquedo predileto, seus parceiros nas infinitas artes de inventar,
construir, trocar e é claro, brincar. Quando não arruma também uns bichinhos
(coitadinhos!), como gafanhotos puxando carrocinhas de caixa de fósforos.
Cigarras, que amarradas ao pescoço voam até onde se deixar.
Vagalumes que dentro de um vidro fazem sucesso
como lanterninhas para brincar de noite.
Martinha, menina esperta, bonita e de muita
inteligência, sempre inventava seus brinquedos e gostava demais de jogos, mas seus
pais não tinham como comprá-los, mas é claro que Martinha dava um jeito. Sempre
que via algum jogo interessante e não tinha dinheiro, corria até uma loja que
ficava perto de sua casa e lá pedia para ver o tal jogo. Espiava, via o preço,
contava as peças, e ia fotografando em sua mente aquilo que via para que depois
pudesse reproduzir em casa, principalmente se fosse feito em papel, porque
papel sempre se arruma em casa de pobre. E lá ia ela feliz da vida para casa
porque o seu Joaquim havia deixado que olhasse o brinquedo e ele já estava em
sua cabecinha.
Chegava a casa, arrumava restos de cartolina e o jogo
estava feito. Normalmente não deixava mais ninguém em paz, porque a partir de
sua obra concluída todos tinham que jogar.
Explicava as regras e punha todos a brincar, querendo
ou não querendo. Ai de quem lhe dissesse um não. Este estaria fadado as suas
perseguições constantes, quando não tomava uns croques bem dados e acabava se
rendendo e tendo que ser companheiro de jogo...
Certa noite, sem sono, resolveu que deveria jogar até
que o sono chegasse. Como a casa era pequena para acomodar tantas crianças,
havia no pequeno quarto, quatro beliches em que dormiam dois irmãos em cada
uma. Um dormia nos pés e outro na cabeceira da cama.
Martinha acordou os irmãos e pediu para que fossem
jogar com ela, mas como todos dormiam ninguém queria. O sono era mais forte.
Mas ela não desistia, dava um “chutinho” daqui, uma “pisadinha” dali, e ia
infernizando a turma para acompanha-la e, na negativa, ameaçava que no dia
seguinte iriam se ver com ela. Era aterrorizante saber que no dia seguinte o
que os esperava era uma boa briga.
Conclusão: madrugada e todos jogando como se a
animação fosse o mais importante naquele momento de descanso.
Consequências do jogo: Quando o pai acordava com o
barulho, era uma tamanha correria para o quarto, pois mais forte que Martinha
era o pai que muitas vezes resolvia a situação naquela mesma hora... Então só restava correrem todos ao mesmo
tempo e dormir ou ao menos fingir que dormiam para que a coisa não ficasse mais
feia.
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