Lugar de bruxa é na fogueira?

                                                               Art - Anne Julie Aubry

“Lugar de bruxa é na fogueira?”

Por Claudiane Ferreira

Fiquei pensando que razões levaram uma pedagoga a fazer um comentário desse teor,  em pleno século XXI,  em uma rede social, com a leitura dessa citação:  “Lugar de bruxa é na fogueira”, voo batendo meus dígitos feito morcego . Despertou em mim um vômito que julgava ter passado.  

Em espaço escolar o professor não tem o direito de induzir os alunos a compactuar com seus próprios preconceitos e crenças, esses fatores são incompatíveis com a natureza laica da República Brasileira.

Conheço alguns “profissionais” que agem assim. Consideram-se luz.
Há dias, me aconteceu um fato inusitado, com uma dessas luzes. Comentei com os alunos do pré-escolar que na semana do Halloween, a bruxa Salomé viria contar uma história para eles, uma aula diferente, dia de festa.

Dois dias depois, dois alunos que criaram o hábito de visitar minha sala na hora do recreio, contaram-me que não poderiam participar, pois a professora havia dito que eles não participariam da suposta festa. E que a tia disse que bruxa é blá, blá, bla...

Respondi: Podem sim, será no meu horário de aula com vocês.

Mais um dia... e passa a diretora adjunta pela minha sala e diz que quer falar comigo depois da aula. Não consegui esperar até a hora do recreio e chamei-a.

Ela me relatou que foi procurada por um aluno que pediu a ela que o deixasse em sua sala durante a suposta festa.

Na mesma hora falei que não acreditava (e ainda não acredito). Sei, gênios existem, mas um garoto na faixa de 4 a 5 anos ter autonomia para procurar a direção e fazer um pedido assim...!?

Na conversa eu expus meu ponto de vista e ela o dela.
Como prefiro fingir loucura a tornar-me pássaro enjaulado, a partir desse episódio resolvi trabalhar com histórias de bruxas durante todo mês.

Os alunos adorando, eu mais ainda,  por estar contribuindo para mostrar todas as facetas desse personagem  lúdico e desmistificar preconceitos.  O bem, o mal, o bom, o ruim, o esperto, o bobo, o louco, o sábio, o feio, o bonito...

Como gostaria de ser bruxa! Meu feitiço? Mostrar a verdadeira aparência dos corações... Contagiar as pessoas a buscarem o verdadeiro sentido da vida...

Mas como não sou, deixo aqui o meu repúdio ao preconceito, à censura e à falta de discernimento cultural e religioso.




“ Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão”
               Carl Jung






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