Negar a Si Mesmo
Mateus 16. 24
“Então disse Jesus a
seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua
cruz e siga-me.”.
Benjamim vem meditando
nestas palavras desde o dia primeiro de setembro e está se sentido muito
confuso. Num passado distante, ele escrevera em seu diário:
Afinal, quem sou eu?
Quem eu fui? E a resposta é que nunca fui eu mesmo. Vivi papéis, interpretei personagens,
aliás, muitos personagens, mas nunca fui eu mesmo.
Desde cedo em minha
vida, logo depois de nascer, comecei a vestir fantasias e a interpretar papéis.
Comecei a ser personagem, um depois do outro, e foram tantos que, hoje, olho
para trás numa esperança de me achar e não encontro nada. Perdi, deixei escapar
a chance de viver a minha própria vida; nunca fui eu.
E falando sobre onde
vou buscar material para meus escritos, continuei:
Encontro o material
para meus escritos no interior de mim mesmo, onde está a essência que anima meu
corpo material. É aí que vou buscar o conteúdo de minhas obras, através das
quais procuro revelar que é extremamente superficial e radicalmente enganosa a
ideia que o ser humano faz de si mesmo. Nos textos procuro mostrar que não
somos nada daquilo que pensamos ser; que nada daquilo que já se escreveu ou
pensou até hoje, se aproxima da Verdade. Antes, o homem está se afastando cada
vez mais dela. É acreditando nisso que vou até esta região abissal, que promete
o supremo prêmio do encontro comigo mesmo, saindo da pasmaceira enfadonha e
tediosa, na esperança de encontrar a Verdade que me libertará.
Ser personagem é
fácil, difícil é não ser.
Mas eu não desisto e
continuo a me procurar. Só uma pergunta me encanta: quando chegar a hora de me
encontrar, como reconhecerei que sou eu se nunca fui eu de verdade?
Uma sensação de
desperdício me acompanha ao mesmo tempo em que a esperança ainda teima,
desesperadamente, de esperançar.
***
Pois bem. O tempo
passou e sinto que hoje encontrei comigo mesmo, com o eu que nunca fui e, confirmando o que já escrevera no passado, não
reconheço este eu que encontrei,
porque nunca o fui de verdade - sempre fui o “si mesmo”.
Refletindo nesta
passagem em que Jesus disse a seus discípulos: “se alguém quer vir após mim, a
si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.”.
Pois bem, quero
seguir a Jesus porque, segundo sua promessa, quem o seguir terá “vida e vida em
abundância”. É justamente isto que desejo: viver plena, abundantemente, mas, segundo
a passagem de hoje, primeiro é preciso “negar a si mesmo”. Estou tentando e já
consegui saber que esta crosta de personagens e fantasias que vesti até hoje,
não sou eu. esta crosta é o “si mesmo” de que fala Jesus. Este não sou eu.
Porém, ao despir-me desta
crosta, para minha surpresa e espanto, não encontro nada, isto é, não encontro o eu que na verdade eu sou. Confirma-se o
que escrevi décadas atrás: “quando chegar a hora de me encontrar, como
reconhecerei que sou eu se nunca foi eu de verdade?”.
Sinto-me meio-triste
porque já sei quem eu não sou: não sou esta crosta de personagens e
fantasias que vesti durante toda a minha vida; mas, por outro lado, fiquei despido
e sem saber quem eu sou.
Será esta a minha cruz?
E que devo toma-la para depois segui-lo? Será que, ao segui-lo, finalmente
descobrirei quem eu sou?
São perguntas que
aguardam revelação.
EP. Gheramer
Comentários
Postar um comentário