"COISAS MINHAS -Algumas ruppes " Londres 30 de Setembro 2016 Jorge Pincoruja
Eu eu assim despido ...porque me sinto nu.
Tenho me desligado das pessoas que sofrem de alguma
forma.
Não porque tenha escolhido ser mau, egoista
ou desinteressado.
Pelo contrario...
Mas é que o sofrimento alheio faz-me sofrer.
Tenho esta mania de me meter na pele dos outros,
sei que devo evitar pessoas que choram,
por saber que também acabo chorando com elas.
Ainda que me mantenha afastado, sinto estas
emanações virem ao meu encontro.
Tudo isto acentua ainda mais a preocupação aos problemas
normais que cada um de nós forçosamente tem.
Sempre me lembro ter sido assim ...coração de
manteiga é como as pessoas apelidam gente como eu. O que é facto é que nao
posso ver sofrimento acontecendo ao meu lado.
Não posso ver uma planta torcida de sede...largo
tudo e vou dar-lhe um pouco de água.
Ok estou já posso imaginar os vossos pensamentos.Não
sou um santo, nem tão pouco uma bondade budistica. Não ! não sou nada disso e a
prova está que quando me irritam sei ser uma besta. Graças a Deus esta faceta
da besta muito raramente aflora.
Fico adoentado quando sei de injustiça, nervoso
quando vejo o forte sufocar o fraco .
Já tenho apanhado por me meter na defesa destas
pessoas e também tenho dado uns tapas valentes ...mas digo-vos tudo isto de ser
empatico traz dificuldades.
Um dia na estação Chhatrapati Shivaji Terminus em
Mumbai, India encontrei um mendigo dentre os tantos mendigos de Mumbai - este
fazia-se deslocar sobre duas tabuas com rodinhas, pois tínha os membros
inferiores completamente atrofiados.Claro que eu sendo estrangeiro (gorá) destaco-me
facilmente das aglomerações. Senti o seu interesse e pedi silenciosamente a Deus
que nao viesse ...mas veio, e estendeu-me a mâo....
E eu tive que lhe fazer entender que não tinha
dinheiro comigo ....juro por Deus que não tinha mas sei que não me acreditou !
Ainda hoje essa memória me incomoda .
Lembro-me dos olhos profundos castanhos num rosto
de vinte e poucos anos, implorando-me algumas rupees.Eu acabado de chegar ainda
não tinha convertido nenhum do meu dinheiro.
Desde esse dia sempre tive comigo cem rupees para
dar aos mendigos ...
Aditia o meu amigo Indiano, depois de me observar a
destríbuir dinheiro, deu-me um tamanho discurso!!
“Por que eu não poderia nunca minemizar o
sofrimento de milhares de mendigos ...nem teria como, ou se eu tinha vindo á
India para ser outra Madre Teresa ?“ e outras tantas ...
Não respondi nada- ele não é empático
Eu sou ! -Ele vê estes mendigos todos os dias
...
Eu não! -Ele está posicionado na
vida para aceitar isto.
Eu não! -Ele nao pensou mais no
assunto.
Eu sim, pensei quase toda a noite!
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