O PROJETO - Capítulo 7
- Como missionários
que são, o que o cristianismo tem a dizer sobre isso? – Perguntou Alves.
- Isso vai depender
da ideia do que você chama de Cristianismo. Se com esta palavra você está se
referindo às religiões cristãs e institucionalizadas, como o catolicismo, as
igrejas ortodoxas, os milhares de confissões do protestantismo, elas continuam
existindo enquanto tradições dos homens. Mas, se está se referindo à doutrina
de Cristo, como é revelada nos Evangelhos, isto é, da religião de fé em Jesus
Cristo, de sua ética, de sua promessa de redenção, infelizmente já não mais
existe. Foi tragada pela ambição do poder dos homens que se dizem dirigentes ou
líderes do Cristianismo, em todos os níveis – disse Maria.
- Mas, o Evangelho
nunca foi tão pregado como o é hoje... Em cada esquina existe uma igreja... E
querem dizer que tudo que pregam não passa de mentiras? É isso? – Disse Alves.
- É verdade, isso
acontece. Mas, apesar disso, você acha que o Bem reina hoje sobre a face da
terra? – Disse Maria.
- Não é preciso
muito para responder que não. Nós vemos todos os dias, através da mídia,
somente maldade, crueldade, hipocrisia... Enfim tudo o que é mal. Mas, isto não
é de hoje; hoje ficamos sabendo por causa do avanço dos meios de comunicação,
que nos informam em tempo real, como é o caso da Internet, por exemplo - Disse
Alves.
- Você tem razão
quando diz isso, porém, o mal que hoje você fica sabendo praticamente de forma
instantânea, é quase tão antigo como o tempo e tem sido transmitido, desde
então, a todas as dimensões existentes. As guerras, revoluções, rebeliões que
aconteceram e continuam acontecendo é o resultado dessa transmissão – disse
João.
- A transmissão do
mal do qual falam é o mesmo que a Bíblia chama de “pecado”, resultante do ser
humano haver comido do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal e que
seria uma maçã? – Disse Alves.
Neste momento, foram
interrompidos por batidas na porta. E qual não foi a surpresa de Alves ao abrir
a porta e ver, em pé à sua frente, ninguém menos do que Quiriat. E sem saber
por que, sentiu um enorme alívio no peito.
- Entre, entre, meu
amigo – disse Alves ao mesmo tempo em que o apresentava a João e Maria.
- Quero apresentar-lhes o meu amigo Quiriat.
Após os
cumprimentos, Alves, puxando um caixote, convidou-o a sentar-se e fez um breve
relato do que estiveram conversando, pois sabia que interessaria a Quiriat.
- Este é apenas um
relato humano – disse João, parecendo querer justificar o que havia falado.
Como se estivesse
ali desde o princípio da conversa, Quiriat não tardou a falar.
- Sim, concordo que
é apenas um relato humano, pois, de que outra forma o homem entenderia, não é
verdade? Trata-se apenas de uma coreografia para aquela época. Embora, sendo
uma maneira de expressar a mais pura e plena Verdade – disse Quiriat, sem pressa
de entrar na discussão.
- Como dizia –
continuou João -, esta é a maneira que permitiu ao homem ter acesso ao
conhecimento, embora a maçã seja uma representação, ou possua valor místico, se
preferir.
- Por favor,
corrijam-me se estiver enganado – disse Alves. Nisto consistiu a queda do
homem, como é relatada na Bíblia, quando se atreveram a comer da árvore do
conhecimento do Bem e do Mal. Está correto?
Só então Quiriat
entrou na conversa.
- Você está perto da
verdade. Todos os males somente vieram à existência, após uma rebelião para
assumir o poder, acontecida em tempos remotos e numa dimensão paralela que é
chamada de celestial ou espiritual – disse Quiriat dirigindo-se a Alves, ao
mesmo tempo em que observava as expressões nos rostos de Maria e João.
- Tratando-se da
luta pelo poder, faz sentido. Até onde eu sei historicamente, as revoltas
sempre aconteceram quando os homens quiseram mudanças radicais e nas
consideradas mais importantes sempre ocorreram enquanto um processo
sócio-político, visando à derrubada de algum poder governamental ou das rédeas
do mundo. E sempre utilizando o terrorismo, a sabotagem e os conflitos raciais
– disse Alves.
- Mas, se você olhar
por outro ângulo – disse Quiriat -, pode haver revolução sem qualquer mudança
para melhor, e, sim, para pior, o que com muita frequência pode-se observar. No
entanto, mesmo estas, são apenas rebeliões e não verdadeiras revoltas.
- Como não?! Tem
havido grandes revoluções históricas, que não são apenas golpes de Estado e que
produziram mudanças significativas. Por exemplo, a Revolução Francesa, do
século XVIII, que acabou com o sistema político dos reis franceses em que
tinham poderes absolutos, sem limitações ou restrições e que exerciam, de fato
e de direito, todos os atributos da soberania, ou a Revolução Comunista, em
1917, que pôs fim ao regime Czarista na Rússia – disse Alves.
Para surpresa e
espanto de todos, Quiriat deu uma sonora gargalhada.
Continua...
EP. Gheramer
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