UM DIA PARA ESQUECER
Por Osny Alves
Hoje
levantei sem saber que estava no paraíso e nem esperava chegar ao inferno tão
rápido, o pior é que quando se está lá, você acha que já viu de tudo, aí vem o Tinhoso e te apresenta mais uma repartição e lhe diz que ali será o seu novo
lugar. Fui ver o carro e vi que estava indisponível para mim, tentei o do meu
pai e percebi que estava na mesma situação. Tentei o cartão de debito para
sacar um dinheiro e pegar o ônibus, mas por incrível que pareça também não deu
certo, em vez de depositarem na conta corrente, me enviaram para a conta
salário que me impossibilitou de sacar no caixa eletrônico. Recorri ao cartão
de credito que nem deu sinal de vida. Então resolvi encarar cinco quilômetros
na pernada, coisa que não fazia há vinte e poucos anos. Eu me lembrei do
bilhete único, um cartão que me possibilita pegar quantos ônibus eu quiser, o
engraçado é que na hora de entrar no ônibus eu lembrei que tinha emprestado ao
meu sobrinho para ir fazer o Enem. Ainda bem! Estava para passar vergonha.
Voltei a pensar na maratona.
Os primeiros
duzentos metros era uma subida íngreme. Tirei de letra, os passos versejavam
quais poemas escritos à luz de uma lamparina! Meus passos eram rápidos, e
precisos. Mas ao chegar ao topo, de uma ladeira de uns quinhentos metros que me
forçavam a quase correr morro a baixo. Ainda sorria pensando em tirar aquela
andança em poucos minutos, mas ao começar a subir uma montanha de uns
seiscentos metros de arrancar a coluna do lugar, percebi que seria melhor ter
ficado em casa, tranquilo, assistindo TV e bebendo uma Coca-Cola gelada, igual
àquela que tinha em meu refrigerador. O suor já não escorria, ele jorrava. Minha
camiseta grudava em meu corpo, como se fosse uma segunda pele. Minha calça
parecia que caminhava no piloto automático, cheguei a tropeçar cinco vezes no
piso plano o qual andava, minhas pernas bailavam a dança de um “bebum”, os
nervos e músculos de minha coxa direita cantavam mais alto que o Axel Rose, na música
“November Rain”. Mas não foi pior do que ter que passar por uma comunidade
barra pesada, caminho pelo qual faço todos os dias apenas de carro e com os
vidros fechados, tudo isso para economizar alguns quilômetros e algum tempo a
menos.
Chegou uma
hora em que minhas mãos estavam tão inchadas que pensei que minha barriga estivesse
saindo do corpo! Viraram verdadeiras bolotas, meus dedos já gritavam de dor
pulsando cada veia contida neles. Ao começar a subir a penúltima rampa de
quatrocentos metros minha respiração já não era a mesma, não sabia se andava ou
respirava, o meu piloto automático já apresentava falhas e voltei a tropeçar
algumas vezes, e o pior, em nada! Quando cheguei ao topo, mal consegui
atravessar a avenida. Foi então que avistei as copas frondosas do pequeno
bosque que eram vistas nas cercanias do colégio. Desci mais uma rampinha
de poucos metros. E comecei a última subida quase o dobro do último trajeto que
acabara de descer... Senti como se fosse
o Rock Balboa, a subir os degraus daquela praça, ao fazer aquela corridinha
memorável do filme! E ao chegar aos últimos cinquenta metros deu vontade de dar
aqueles pulinhos que ele dava, ao ter êxito em sua jornada. Só não pulei,
porque cairia para a morte com a cara estatelada no chão, no primeiro salto de
dez centímetros. Enfim, cheguei. E quase enfartei ao ouvir a frase que ecoou em
meus ouvidos afora:
- Professor
o que o senhor está fazendo aqui? Hoje você não tem aula!
Como eu
disse...Algumas coisas seriam melhores esquecer!
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