AMOR
AMOR
Maristela Ormond, Crônica.
A idade quando chega, traz sabedoria e astucia, porém
pode trazer também certa angustia por não se poder compartilhar tanta sabedoria
adquirida.
Poucos compreendem e param suas vidas para ouvir o que
o velho tem a dizer. Afinal o que ele sabe sobre a tecnologia, sobre os
pensamentos de Nietsche, de Jean Paul Sartre entre outros que fazem parte da
literatura mais erudita, e sobre economia então? O que ele tem a dizer? E sobre
a política vigente no país?
Realmente é difícil perder tempo com citações
evasivas, perdidas num tempo em que não conhecemos e não fizemos parte ou se
fizemos já não nos surpreende, pois ficaram lá, perdidas no passado e afinal,
somos o futuro, os grandes acontecimentos... Não podemos perder nosso valioso
tempo com conversas que não fazem mais sentido em nossas vidas.
É difícil demais darmos ouvidos a alguém que ora
lembra-se de algum dado importante de sua própria vida, ora para perguntando
como é o seu nome e quantos anos tem quem é você? É difícil sim, e paciência nos falta para
ouvir, para explicar, para conversar um pouco mais. Temos pressa, temos muita
pressa e tudo no idoso funciona muito devagar...
Entretanto todo
esse nosso conhecimento adquirido mais cedo ou mais tarde pode cair no descredito,
pode ser subjugado por um moço qualquer, que não pode e não quer perder tempo
com a insanidade anciã.
Não podemos esquecer que a cada dia que passa a vida
também se esvai e não percebemos o quanto nossa astucia e sabedoria pode dar as
mãos ao sábio alemão Alzheimer e sair caminhando com ele com conversas
infindáveis e criativas.
Quem teria paciência, quem teria caridade para
praticar doando um momento de conversa, um momento de explicações e talvez de
parcas lembranças difíceis de serem compreendidas, através de um afago nas
mãos, um sorriso, um olhar dentro dos olhos, que por sinal já não enxergam,
pois a neblina os encobre, no momento em
que mais precisarmos?
Talvez esse seja nosso ultimo e mais intimo
companheiro de jornada e, no final, bem no final, poderíamos andar a passos
lentos juntos com a sabia vida e a energia emanada do companheiro de todos os
momentos a quem aprendemos desde o início de nossas vidas a nomeá-lo por AMOR.
Comentários
Postar um comentário